Asco

Olha pra ti flor que nasce no estrume.
Semente expurgada de ódio crescente.
Equivocada ao existir sem pedir perdão.
Renegada pela menor virtude.
Incitada tantas vezes num livro de ignorantes.
Olha pra ti, flor que nasce do estrume.

Fincada três vezes em terra estéril
À moda de princesa morta de alguma cova mal pisada
Ungida de pudor inverossímil
Confinada em jaulas invisíveis
Com portas de orgulho e presunção
Olha, pra ti. Flor do estrume.

Já não pode ver, pois de pungente e fétido rancor apodrece imaculada
Flor do estrume, flor de jaula, jaula e estrume numa flor de fumo
Fraca e falha, feia e flácida.
É senão uma flor que nasce
Nasce morta por ser de estrume.
Nasce e morre, a flor do ciúme

Dois dedos

Te amo a dois dedos do fundo do meu coração
Dois para a esquerda. pertinho de onde eu me amo
Até digo que te amo tanto quanto amo meus sonhos

Dois dedos é o que falta para encher um copo com gotinhas
Gotinhas de "espere mais um pouco"
A dois dedos de um eterno amor
E mais dois de conhaque para relembrar

Puxa vida como passou rápido!
Como um rastro de perfume no vento
Que descola do corpo de um qualquer, como se fosse flor da noite

Isso é de inspirar dois dedos de suspiro
Ingrediente esse de amor difícil
Como bolha de sabão na mão de uma criança.
Deslumbre de segundos apressados.

De dois em dois dedos, uma mão cheia de amor,
Estendida, pronta pra doar a si em completo.
É que a morte só separa se jurarmos com dois dedos.