Por
devaneio repentino um viajante por aventura de seus delírios insanos arremessou
alguma coisa à porta. Não há garantia de que não tenham desviado o olhar, mas
de um segundo para o outro o viajante passou de um lindo modelo de um mau
exemplo, aFoi, foi fundado a três pontos, distantes entre si duas vidas e um por quê. Na época a ideia era simplesmente afastar aqueles que ousam se achar próximos. Não por motivo de exaltação, mas por algum tipo de proteção àquele que pensa que vê. Têm-se registrado multidões inteiras tentando invadir por acharem que só por ter sido mantido trancado por tanto tempo, alguma coisa de valioso devia estar ali. Ora, nada fazia mais sentido que isso: por que razão alguma coisa seria guardada por portas tão chamativas e seguras, com seu caminho de intermédio sendo tão tortuoso que não um verdadeiro tesouro?
Mas era surpresa. Sim o era, surpresa e decepção. Apenas sete deles conseguiram passar pela prova que a porta impunha. Nunca soube de alguém que soubesse o que a porta sugere. Algumas coisas disformes gravadas, representando algum tipo de movimento. Pelo menos isso é o que parecia ser ao longe.
o belo exemplo de modelo horrível. Pudera...afrontar identidades
inanimadas, embora incrível de ser isso possível, nunca fora algo de se gerir
orgulho em alguém – e até tem algo de medíocre e infantil.
Os
esforços das expedições de observação em muito ultrapassaram a curiosidade, se
tornando em alguns pontos, obsessão. Num sentido literal, as coisas são justas
àquilo onde estão inseridas. Antes um espaço vazio, e então um monumento.
Muitos dos que ali moravam foram desalojados. Não que tivessem uma moradia,
propriamente dita, mas era onde se mantinha como um lugar pra se voltar ao
final de um período qualquer. Qualquer coisa semelhante a um lar. E que isso
não traga ideias de bom agouro. Novamente, o lugar onde o monumento fora
inserido não tinha nada em si do relativo belo – era necessária uma transcendência
desses tipos de conceitos.
Um
aglomerado, que pareciam ser um grupo de peregrinos mal convidados, conversavam
exultantes sobre qualquer coisa a respeito de uma “investida paralela”. O que
parecia ser o líder conceituava aos demais, estratégias já observadas para
demonstração de erros de técnica, enquanto comparava com suas impetuosas e bem
sucedidas, segundo ele mesmo, afrontas.
Não
havia o porquê de se tentar qualquer coisa, mas pelo simples fato dos presentes
aparentemente não terem absolutamente mais nada interessante a ser realizado, o
monumento era passatempo quase unânime na região. A grande falta de sentido
embalava os breves sonhos dos que por ali perambulavam.
Só
com uma observação superficial já era possível perceber que a multidão era
composta pelos mais variados tipos, vindos dos mais variados locais, sujeitos
às mais variadas pressões. A assustadora diversidade dava um tom peculiar ao
quadro todo. Grupos pequenos de todos iguais, grupos pequenos de uns
diferentes, grupos de sozinhos, pares de três, e trinas de um. Tentar definir
como se dividiam seria ousadia demais pra um qualquer, meio são de um resto de
consciência.
O
ar destoante veio quando o monumento tomou papel e decidiu por se pronunciar
com um belo e estrondoso ruído grave. A baixíssima intensidade do som era tanta
que se sentia trepidar todos os vazios internos e externos do entorno. Só isso.
Sem movimento. Sem petulância. Porém, o som era tão inesperado que a egrégora,
de súbito, entrou num silêncio tão profundo quanto coração de viúva apaixonada.
De
pronto, mentes em devaneio se puseram em concentração sobrevivente. Qualquer
oscilação maior, agora, era passível de causar debando em todos. Não que valha
a opinião, mas se o objetivo tivesse sido esse, a estratégia teria sido de
certo, eficiente. Mas para um curto período de tempo, as disritmias no contexto
geral não cessariam tão cedo.
Não
passaram três pulos da engrenagem de um relógio comum e de novo o soar grave
deu o ar da sua graça. Não mais as mentes se puseram em silêncio mórbido, mas
agora, perigosamente, reflexivo. Um soar pode ter sido ao acaso, mas dois, isso,
com certeza deviam ter algum motivo. Antes que pudessem continuar suas
reflexões impunes, outra vez soa o som grave. Assustou e paralisou os
aglomerados e solitários vagantes.
Do
mesmo jeito que surgiu, o monumento, ao som grave ensurdecedor e lentamente
compassado, aos poucos foi, de forma inquietante sendo removido. A completa
falta de sentido e explicação para todo aquele processo foi tanta que três
doutores da razão entraram em colapso estagnante. Oito pensadores das cores
tiveram danos nos olhos de tanto procurar os porquês. E vinte e cinco senhoras
dos murmúrios perderam seus ouvidos esperando uma resposta.
A
falta de alguma qualquer coisa que suprisse todo aquele vazio, gerou uma
decepção conceitual tão abrupta que um vale se formou no local onde o monumento
se encontrava. Nem os restos do viajante impetuoso e impiedoso com a porta
sobraram. Nem mesmo o vazio que dormia por ali conseguiu escapar, tudo para
baixo, com o fundo do vale. E o peso era tanto que tudo que para o vale abaixo
corria, jamais subia e num lago escuro e denso, com toda a arrogante certeza,
por ali, ficaria.
Pelos
dias que correm ultimamente não se tem dito muito sobre o “finalmente” daquele
lugar. Afinal, não é de todo um lugar que se queira visitar para se adubar
floreios de imaginação impertinente. Até onde se sabe, por moças que ébrias
trançam as pernas por caminhos esguios, é que onde um dia um monumento foi
colocado, agora um lago, escuro como os olhos da noite se mantém imóvel e
imutável. Onde loucos pescam janelas de sanidade e lúcidos goles de prazer sem
fundamentos.
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