Sombras de gelo no uísque

Era noite quando me deparei sentado na escada dela. A luz amarela do poste recaia sobre mim e minha garrafa de uísque, dando um ar ébrio ao momento. Algo que realmente não era o mais adequado, dado o meu humor naquele dia.
Não bastasse tudo o que já vinha acontecendo comigo naquele mês, tinha que ser somado a tudo isso uma dose de “aguente se puder”! Mas não tinha problema, já havia resistido a situações piores que essa. Se é que situações piores são possíveis.
Eu queria muito sair daquela escada, largar a garrafa, ajeitar a minha roupa, sacudir a poeira, e dizer de cabeça erguida: “vai ficar tudo bem, eu vou superar isso e continuar”. Mas…eu não conseguia. Para cada lampejo de esperança que vinha á minha cabeça, um gole de uísque para sufocá-lo.
Um gole, dois, três, quatro, meia garrafa bebida e idéias talvez não tão propícias começavam a se passar pela minha cabeça. Mas o que eu podia fazer, acabara de vir de um dia duro no serviço, ainda com roupa social e aquele sapato apertado. O que eu esperava encontrar: compreensão…era o mínimo.
Mas como dizem, “a vida não é um mar de rosas”, pela primeira vez pude perceber o real significado desse ditado. Nada pode ser tão ruim que não possa piorar.
O que eu fiz naquela noite não é algo que eu me orgulhe, não é algo que eu lembre com carinho…mas…tenho que contar…afinal o psicólogo aqui é você…
Eu finalmente terminei meu uísque, bebida a qual eu gastei todo o meu dinheiro da carteira para comprar. Como não tinha muito, o uísque era vagabundo, na verdade nem sei se era mesmo uísque depois de um tempo. A única coisa que sei é que os goles, quentes, fervilhantes começavam a fazer explosões de pensamentos na minha cabeça…idéias…sons…cores…cores e sons. Foi quando eu finalmente tomei uma atitude, joguei minha garrafa longe, sacudi a poeira da roupa, tomei coragem e entrei fervilhando na casa dela…eu nunca tive tanta coragem para fazer o que fiz…
Caminhei pela sala escura, na qual a luz da lua iluminava cada móvel de uma forma sombria e romântica. A cada passo em direção ao quarto dela, um suspiro, muitos temores e só um objetivo. Silenciosamente abri a porta de seu quarto mas o “clic” da maçaneta é inevitável; foi quando ela acordou e me viu parado a sua frente todo malhado e acabado. Eu sabia o que tinha que fazer. E eu fiz…
Agora sei o real significado de morrer. Naquela noite quem morreu não foi só ela doutor. Foi eu…ou quem eu era. Não me importa o que você fará com esse relato que acabo de fazer. Se você agora o lê, é por quê agora eu me juntei a ela.

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