Fosse isso.

Foi-se, por que é desproporcional.
É de ser, é de estar.
É dizer, que agora a foice é reza de louco em campo de lírio morto.
Que findo o cansaço é chegada a hora do pé voar por cima da responsabilidade
E descansar saudoso do abraço do sapato de couro velho.
Calçado que levou tanto tristeza arrastada sobre terra batida,
Quanto sorriso em grama recém-cortada.
Com cheiro de manga fresca que cai do pé por querer conhecer o mundo.
Cai em sombra de grandeza, com ambição de ser árvore.
Ter um dia raiz profunda pra que vento nenhum dobre.
Puxa que caduco.
Tinham rosas pra regar, margaridas pra colher e tabaco pra secar.
Foi-se antes que o Sol nascesse de novo.
Não queria que o brilho ofuscasse seus olhos empedrados de horizonte.
Nem que as nuvens enfeitassem o topo da cabeça, calva de tanto pensar.
É por que é desproporcional que viva sendo mais que terra ou manga.

Ódio dissolvido em críticas. Bom.

Muda pois, não mudo-te.
É mais pela metade faltante que pela que vai completar.
Fica essa tua mentira mal contada pela metade.
Pela metade tu andas contando e cantando
Os contos aos cantos e catando cacos aos montes.
Poeira de caco remontado em carpete velho.
Muda-te, senão, mudo-te.
Pois mudar consiste de não ser o mesmo.
Ou vai consumir todo o mundo antes disso?
Pode ser te afogues em vento que sai do teu peito.
Lá não habita a conformidade imponente de cachorro doente.
Nós. Ego. Eles.
Pois de "sós", têm de sobra. E o que te sobra?
O sabor de deixar cair a ultima folha de árvore robusta no outono.
Com o pescoço dolorido de tanto olhar pra trás.
Muda-te, ou te mantém.
Já é inverno e ainda procura as folhas pra se cobrir.
Há de morrer de frio mesmo coberto de fogo.
Ou quem sabe é tudo mais um gole de pergunta sem resposta...

Papel pardo

O nada que me compõe é da mais sólida rocha.
Um erro muito bem fundamentado em verdades mal ditas.
Ou um meio acerto de um velho mesquinho.
De sorte alguma pude prever...
Que do gosto do mel me sobraria mascar o favo.
Mas é isso não é? Mascar o favo da modéstia amarga.
Que do café me sobraria a borra queimada.
Mas é isso não é? Refazer o feito para reter um melhor efeito.

Lamber os dedos já esquálidos de tanta fome.
Fome de existência, fome de existir.
Fome que some e assoma e somente soma.
Soma um nada esquisito que completa o que não faltava.
E aí, o mel e a borra se mostram não como castigos, mas como presentes.
Fosse eu merecedor de coisa melhor, não haveria por que escrever poesia.
Eu apenas sorriria.

Pontos...pausas.

Quanta graça e charme tem numa fala pausada.
São as pausas que dão fôlego pra mente.
Como esses mestres da sabedoria humana, que descansam a língua a cada provocação.
São as pausas que dão sentido ao continuar andando.
Por que começou a andar se no começo não havia pensado em pausar?
Mas nem sempre a pausa é bem-quista.
Chuva. Belas gotas de profundidade intelectual
Se perdem em rios de tristeza inerte.

Quais são? Quais são as coisas que movem seus passos até a próxima pausa?
Quando, para você, é a próxima pausa?
Um fôlego interminável que tem raiz num medo infindável.

Medo? Medo de que? Há sempre o desprevenido para perguntar.
Medo da pausa, a pausa que diz que sou.
A pausa que me mostra o que fui, onde estou e para onde eu vou.

Portanto...quem não pausa tem medo.
Medo de saber de si mesmo aquilo que nega na escultura do outro.
Fosse de outro jeito nossa consciência não viveria num leito.
Leito de enfermo ensandecido por não poder sentir o vento que vem da janela.
Janela do hospício onde trancamos a verdade.
Onde trancamos os papéis com a descrição fiel do que somos.

Minhas desculpas.

Se mudo, mudo por ti.
Mudo por que acha o erro onde construí a certeza.
Se choro, choro por ti.
Que me muda e me cura da cegueira.
Se rio, rio por ti.
Que me mostra graça na desgraça de viver chorando e mudando por ti.
Agora, se fujo, isso faço por mim.
É difícil me ser sem te ter.
Ou te ter sem me ser.
Então se fujo de ti, é por que na verdade fujo de mim.
Pois tenho em ti o ideal de mim.
Calado consinto em ceder.

É quando procura a mim que me acho.
Pois deixei de me ser quando quis te ter.
Troquei o querer ver por apenas viver.
E me basta teu sorriso, teu choro e teu riso.
Numa curta manhã de domingo.
Para que, de novo, me tenha em ti como te tenho em mim.
Um pedido de desculpas silencioso.
Silencioso como o que não disse por esquecer quem sou.
E esqueceu quem sou, pois deixei de me ser.
Para apenas viver para ver você ser.