Papel pardo

O nada que me compõe é da mais sólida rocha.
Um erro muito bem fundamentado em verdades mal ditas.
Ou um meio acerto de um velho mesquinho.
De sorte alguma pude prever...
Que do gosto do mel me sobraria mascar o favo.
Mas é isso não é? Mascar o favo da modéstia amarga.
Que do café me sobraria a borra queimada.
Mas é isso não é? Refazer o feito para reter um melhor efeito.

Lamber os dedos já esquálidos de tanta fome.
Fome de existência, fome de existir.
Fome que some e assoma e somente soma.
Soma um nada esquisito que completa o que não faltava.
E aí, o mel e a borra se mostram não como castigos, mas como presentes.
Fosse eu merecedor de coisa melhor, não haveria por que escrever poesia.
Eu apenas sorriria.

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