Atlas, sobre Ares

Qual vinha, pois, iniciar tal conversa? Tinha na mão qual poderio para destruir uma nação. Quem diria que construiria dois prédios e um quinhão de casas. Pudera tentar esquecer, mas, do contrário, seguiu em frente. Jazia deitado próximo ao seu, um túmulo vazio, pensava no futuro.
 - Corja, corja que me amaldiçoou - pensara.
Pujante pendor de estalar de dedos incongruentes era o som que embalava os segundos, pisoteados por ânsia de ser afinal, final e não meio. Essa coisa de estar correndo atrás, disso, daquilo e mais aquilo acabou por se mostrar uma coisa petulantemente irritante. Sessenta anos desde ultima vez em que birra resolvera alguma coisa. Tinha que por os joelhos à prova se quisesse alguma coisa que julgasse ter algum valor.
A revolta era tamanha que a revelia de pensamentos atuava como torturante lembrete. Cansara-se de estar cansado. Ah...eram tantas as oportunidades que um dia já possuiu que no momento estava sem vontade de fazer com elas alguma coisa. Não eram possibilidades e sim potenciais. Tudo em potencial seria dali em diante. Virtus omni. Cancro crescente de pulso almejante. Regozijava da mais bela e tortuosa provação. Pelo menos é o que pensara até então. Belo. Era belo. Aquele momento, aquele pesar. Os pensamentos esfumaçados em negrume de dúvidas.
Foram dias passados e pensamentos congelados. Petrificado em um universo de “e se”.
- Que seja, hei de levantar. Hei de reerguer-me. À custa daquilo que custar. Hei de me haver. – triste.
E foi. De ímpeto assomado no peito, só queria realizar aquilo que inconclusivamente havia concluído. Sem linha certa de raciocínio. Alguma coisa assim que sai do caos, decerto organizado de alguma forma. Mas fazia sentido, se não, pelo menos fazia direção.
Decidiu por largar o antes e tentar de novo, como numa repetição infindável, com um possível final igual. A poltrona surrada e empoeirada, de espectadora, as garrafas e algum fumo na mesinha de canto sob a luz de um abajour “vintage” era o cenário de mais um final de noite.
Esse tipo de coisa que acontece com quem pensa que já teve demais, mas que no copo da amargura ainda cabem mais algumas doses de bebida azeda, adstringente ou só ruim mesmo... Bebida que preenche um copo no final das contas preenchia de alguma forma. Que gosto tinha, depois de tantos cacos de vidro mastigado, gosto não era um problema.
Terminou de redigir o discurso e estava pronto. No pátio, todos aguardavam seu pronunciamento. Antes de se dirigir ao público recém-acordado na noite fria de janeiro, pensou em como as palavras escritas tinham muito mais significado para quem ouvia do que para quem escreveu. Sentia-se uma vitrola que tocava os discos de maior preferência das grandes mentes por trás do verdadeiro poder. Enfim, não estava ali para questionar, estava para redirecionar.
“Hoje, é um dia muito especial... para nós... vocês, meus irmãos, acordados em hora inoportuna, fiéis aos seus ideais, são o motivo para que esse chão continue a ser o que é. Não é de menor importância aquilo que ocorrera dias atrás. Nada daquilo será esquecido por nós. Aquilo nos magoou profundamente. O pesar tomou conta dos olhares na hora do jantar, o silêncio foi a canção mais cantada desde o ocorrido. As lágrimas regam nossas plantas desde então. Fomos feridos, sobrepujados, humilhados, desconsideraram nossos quereres. Isso... meus irmãos de pátria... é triste... Quando o homem se julga melhor que o homem, quando sai dos limites de seu poderio, invade nossa liberdade, agride nossos direitos, o que fazemos? DEVEMOS, NÓS FICARMOS QUIETOS? DEVEMOS NOS CALAR DIANTE DE TAL ULTRAJE? VOCÊS, IRMÃOS, SILENCIAM-SE DIANTE DAQUELES QUE INDIGNAM NOSSAS VIRTUDES? ISSO QUE QUEREMOS PARA NOSSAS PRÓXIMAS GERAÇÕES?... ARMEM-SE CONTRA AQUILO QUE QUER DESTRUIR NOSSAS FAMÍLIAS, NOSSOS LARES, DESTRUIR QUEM SOMOS.”
Aos gritos de louvor de um público ensandecido deixou o púlpito de forma heroica. Alguém que está perdido em seu caminho, quando apontada direção, essa parece correta a se tomar.
A depressão do engano, o “fazer-crer” de uma luta que não era sua e pior, não só fazer-crer, o convencer. Tornar a dúvida numa verdade, que seja sem fundamentos. São pesos nas costas de um porta-voz do conflito.


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