Amor de ferrovia

Construí com os sarrafos da minha consciência
Uma estrada de ferro.
Que leva os trens por onde não sabem andar.
Me dediquei a essa estrada como dedica a rosa ao seu perfume
Era pra ser linha reta. Mas usei como bigorna o gosto amargo do café
Usei como martelo a insistência petulante de algum viajante aleijado.
A estrada some no horizonte. Onde há vista, há estrada.
Consome em si a paciência de continuar correndo.
E ainda não sei quando começou a ser construída
De pronto grande pedaço de caminho havia sido colocado
No meio de um deserto de coisas a serem montadas.
Mas pra poucos é de se perceber que um grande círculo forma esse caminho.
Que circunda um cemitério. Cemitério de ferro, museu de sarrafo.
Um museu de crimes contra minha consciência.
Um museu de crimes contra uma estrada.
Portanto, sem mim não encontrarei meu fim.
Mas lhe admiro, enquanto estação de trem.
Se sou estrada, são eles os trens é é você a estação.
Não há sentido em estarem separados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário